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A CONTABILIDADE DO CONHECIMENTO
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-Os ativos intangíveis, como as qualificações dos funcionários, a tecnologia da informação e os incentivos à inovação, por exemplo, podem desempenhar papel preponderante na criação de valor para a empresa. Os sistemas tradicionais de mensuração, porém, não foram concebidos para lidar com a complexidade desses ativos, cujo valor é potencial, indireto e dependente do contexto. O fato de que os ativos intangíveis são verdadeiramente valiosos ainda não convenceu um bom número de pessoas, para as quais aquilo que não é contabilizado não possui valor. Os ativos baseados no conhecimento devem ser avaliados com extrema cautela, porque seu impacto sobre o destino de qualquer negócio é tremendo. E este é um dos grandes problemas da Contabilidade: mensurar este goodwill, pois existe muita especulação quanto à supervalorização de empresas. De acordo com Edvinsson & Malone (1998), a lacuna existente entre as informações refletidas nos balanços patrimoniais e a percepção do mercado sobre as empresas está se tornando um verdadeiro abismo.

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A CONTABILIDADE DO CONHECIMENTO




AUTORIA: Maria Elisabeth Pereira Kraemer





Contadora, CRC/SC nº 11.170, Professora e Integrante da Equipe de Ensino e Avaliação na Pró-Reitoria de Ensino da UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí. Mestre em Relações Econômicas Sociais e Internacionais pela Universidade do Minho-Portugal. Doutoranda em Ciências Empresariais pela Universidade do Museu Social da Argentina. Integrante da Corrente Científica Brasileira do Neopatrimonialismo e da ACIN – Associação Científica Internacional Neopatrimonialista.


ENDEREÇO: Avenida Joca Brandão nº 111, Edifício Dona Emília, apto 902 - Centro.

CEP 88.301-300 - ITAJAÍ – SC – BRASIL

E-mail: beth.kraemer@terra.com.br

TELEFONE/FAX: (0XX) 47-3446558






A CONTABILIDADE DO CONHECIMENTO

Resumo
Os ativos intangíveis, como as qualificações dos funcionários, a tecnologia da informação e os incentivos à inovação, por exemplo, podem desempenhar papel preponderante na criação de valor para a empresa. Os sistemas tradicionais de mensuração, porém, não foram concebidos para lidar com a complexidade desses ativos, cujo valor é potencial, indireto e dependente do contexto. O fato de que os ativos intangíveis são verdadeiramente valiosos ainda não convenceu um bom número de pessoas, para as quais aquilo que não é contabilizado não possui valor. Os ativos baseados no conhecimento devem ser avaliados com extrema cautela, porque seu impacto sobre o destino de qualquer negócio é tremendo. E este é um dos grandes problemas da Contabilidade: mensurar este goodwill, pois existe muita especulação quanto à supervalorização de empresas. De acordo com Edvinsson & Malone (1998), a lacuna existente entre as informações refletidas nos balanços patrimoniais e a percepção do mercado sobre as empresas está se tornando um verdadeiro abismo.

1 – Introdução

Como um bem humano, o capital intelectual nas empresas nos apresenta um paradoxo, porque, apesar de ser reconhecido, por grande número de organizações, como um de seus mais importantes patrimônios, não é devidamente contabilizado.
Com a globalização e o avanço tecnológico, as empresas estão investindo em capital humano, com o objetivo de ter retorno mais rápido. Neste contexto, valorizar os recursos humanos é fundamental para a competitividade empresarial, pois eles são os principais responsáveis pelo desempenho das empresas e constituem vantagens competitivas num mercado cada vez mais exigente.
Mas este capital – suas habilidades, competências e talentos –, ao contrário dos investimentos dirigidos para o seu desenvolvimento e dos encargos sociais para sua manutenção na empresa, não aparecem nos registros contábeis. Para dar respostas à esta questão, a Contabilidade precisa de ajustes, com objetivo de atender aos usuários das informações nessa nova era que é a sociedade do conhecimento. Portanto, a Contabilidade não pode deixar de fornecer, a esses usuários, informações de natureza intelectual, ecológica, social e humana.
O capital intelectual não se enquadra nos moldes contábeis tradicionais, por envolver inúmeras variáveis que não repercutem imediatamente nos resultados das empresas e, portanto, não são consideradas pela Contabilidade atual.
Os ativos intelectuais se tornaram os elementos mais importantes no mundo dos negócios. O valor contábil, como referencial econômico-financeiro das organizações modernas, está desatualizado, não diagnosticando eficientemente o patrimônio empresarial, principalmente das empresas do conhecimento, e, desta forma, não atingindo a finalidade maior da Contabilidade: a informação com qualidade.
Entretanto, não se pode deixar de reconhecer a necessidade premente de mudanças e alguns ajustes nos sistemas e práticas contábeis para que essa nova realidade seja devidamente reconhecida e refletida nos registros contábeis.

2 – O conhecimento como gerador de riqueza das organizações

O novo milênio está desafiando todas as organizações a mostrarem suas competências. Os sistemas têm que ser cada vez mais abertos, igualitários e honestos. Os empregados têm que pensar em conjunto para explorar as oportunidades, executar os serviços e resolver os problemas.
O estágio atual de preparação para o futuro envolve a educação das pessoas, o treinamento de recursos humanos para desenvolver talentos, enfim, envolve investimento da empresa em quem, de fato, vai fazer transformações.
Segundo Crawford (1994), o conhecimento é a capacidade de aplicar informação a um trabalho ou um resultado específico. Então, informação é a matéria-prima do conhecimento. O autor diz que a sociedade passou por quatro momentos econômicos diferentes.
√ O primeiro foi a sociedade primitiva, baseada numa visão natural do mundo, cujas principais atividades econômicas eram a colheita, a caça e a pesca.
√ O segundo momento foi à sociedade agrícola, formada num sistema político feudal, baseada em crenças religiosas, quando o conhecimento era concentrado em matemática e astronomia.
√ O terceiro momento foi a sociedade industrial, caracterizada pela valorização do capital físico e da mão-de-obra com habilidades específicas. A imprensa e a televisão eram os principais meios de comunicação.
√ O quarto e atual momento é representado pela sociedade do conhecimento, que compartilha ilimitados meios eletrônicos de comunicação e tem como principal atividade econômica a prestação de serviços baseados no conhecimento. Outra característica desta era é a valorização do indivíduo, capaz de transformação contínua e de crescimento. O capital humano é o recurso fundamental.
Para Drucker (1970), hoje o recurso realmente controlador, o fator de produção absolutamente decisivo, não é o capital, a terra ou a mão-de-obra. É o conhecimento. Ao invés de capitalismo e proletariados, as classes da sociedade pós-capitalista são os trabalhadores do conhecimento e os trabalhadores em serviços.
O conhecimento, material intelectual bruto, transforma-se em capital intelectual, a partir do momento que passa a agregar valor aos produtos/serviços. E esse capital é, em alguns casos, mais valioso do que o próprio capital econômico.

3 – Capital intelectual: principal fonte de intangíveis nas empresas e um diferencial competitivo em relação aos concorrentes

O termo capital intelectual teve sua origem na propriedade intelectual. Ele representa os componentes de conhecimentos de uma empresa, reunidos e legalmente protegidos. É um conjunto de benefícios intangíveis que agregam valor às empresas.
Segundo Brooking apud Antunes & Martins (2002), o capital intelectual pode ser dividido em quatro categorias:
√ Ativos de Mercado: potencial que a empresa possui em decorrência dos intangíveis que estão relacionados ao mercado, tais como: marca, clientes, lealdade dos clientes, negócios recorrentes, negócios em andamento (backlog), canais de distribuição e franquias.
√ Ativos Humanos: compreendem os benefícios que o indivíduo pode proporcionar para as organizações por meio da sua expertise, criatividade, conhecimento, habilidade para resolver problemas, tudo visto de forma coletiva e dinâmica.
√ Ativos de Propriedade Intelectual: incluem os ativos que necessitam de proteção legal para proporcionar, às organizações, benefícios como know-how, segredos industriais, copyright, patentes e designs.
√ Ativos de Infra-estrutura: compreendem as tecnologias, as metodologias e os processos empregados, como cultura, sistema de informação, métodos gerenciais, aceitação de risco e banco de dados de clientes.
O capital intelectual, segundo o FASB apud Wernke (2001), pode ser definido de duas formas:
√ ativos intangíveis combinados que permitem a companhia funcionar e manter uma vantagem competitiva;
√ a diferença entre o valor real de mercado da companhia e o valor real de mercado dos ativos tangíveis menos passivos da companhia.
Já para IFAC apud Padoveze (2000), pode ser pensado como o total de estoque de patrimônios de capital ou baseados em conhecimento que a empresa possui. Em termos de balanço patrimonial, os ativos intelectuais são aqueles itens baseados em conhecimento que a companhia possui e que produziram um fluxo futuro de benefícios para a empresa. Isso pode incluir tecnologia, administração e processos de consultoria, bem como pode ser estendido para a propriedade intelectual patenteada.
Os fatores que geram o capital intelectual, de acordo com Brooking apud Antunes & Martins (2002), são:
√ conhecimento, pelo funcionário, de sua importância para os objetivos da empresa;
√ funcionário tratado como ativo raro;
√ alocar a pessoa certa na função certa, considerando suas habilidades;
√ oportunizar o desenvolvimento profissional e pessoal;
√ identificação do know-how gerado pela pesquisa e desenvolvimento (P & D);
√ avaliar o retorno sobre o investimento em P & D;
√ definir uma estratégia proativa para tratar a propriedade intelectual;
√ mensurar o valor de marcas;
√ avaliar investimentos em canais de distribuição;
√ avaliar a sinergia resultante de treinamento e os objetivos corporativos;
√ prover infra-estrutura e adequado ambiente de trabalho;
√ valorizar a opinião dos funcionários;
√ oportunizar a participação dos funcionários na definição dos objetivos da empresa;
√ estimular os funcionários para a inovação.
Fica, assim, clara a importância do capital intelectual para o desenvolvimento das empresas, além de representar diferencial competitivo em relação aos concorrentes.
Lopez (2000) classifica o capital intelectual em três componentes estreitamente inter-relacionados: capital humano, capital estrutural e o capital do cliente. Todos são intangíveis, mas descrevem coisas tangíveis para os executivos. É o intercâmbio entre eles que cria o capital intelectual.

3.1 – Capital humano – a mina na empresa

Constituem o capital humano o conhecimento acumulado, a habilidade e as experiências dos funcionários para realizar as tarefas do dia-a-dia, os valores, a cultura, a filosofia da empresa, e diversos ativos intangíveis, ou seja, as pessoas que são os ativos humanos da empresa. A principal estratégia da empresa será de atrair, reter, desenvolver e aproveitar o máximo o talento humano, que será, cada vez mais, a principal vantagem competitiva.
Segundo Duffy (2000), capital humano é o valor acumulado de investimentos em treinamento, competência e futuro de um funcionário. Também pode ser descrito como competência do funcionário, capacidade de relacionamento e valores.
Para entender melhor o capital humano, é preciso entender as habilidades que determinam qualquer tarefa, processo ou negócio. Silva (2002) relaciona as seguintes:
√ Habilidade do tipo commodity: são as habilidades adquiridas, costumam não serem específicas de uma empresa e podem ter o mesmo valor para qualquer organização. É, por exemplo, a habilidade de atender ao telefone.
√ Habilidades alavancadas: o conhecimento pode ser mais valioso para uma determinada empresa do que para outra. São específicas a um setor e não a uma empresa. Os programadores da Andersen Consulting, por exemplo, podem alavancar essa habilidade enquanto os do Bank of America só agregam valores aos seus funcionários.
√ Habilidades proprietárias: são os talentos específicos da empresa, em torno dos quais uma organização constrói seu negócio. Podem ser codificadas em forma de patentes, direitos autorais, expertise. O Ritz-Carlton é o especialista em administração hoteleira.
Para que os recursos humanos desempenhem um papel real no desenvolvimento e na gestão do capital humano, Silva (2002) diz que é preciso investir em expertis na empresa, de alto valor, em áreas como definição de fronteiras e habilidades de competência essencial, melhorando o desenvolvimento dos executivos, promovendo a fertilização cruzada entre os gerentes e especialistas de alto potencial em tecnologias vitais e desenvolvendo sistemas de remuneração que recompensem a melhoria de processos e disciplinas que fazem parte do capital intelectual da empresa.
O mesmo autor coloca ainda que Bill Gates, por exemplo, abriu o capital de sua empresa a seus funcionários, porque estes criaram a principal propriedade das empresas: os códigos de software. Desse modo, ele incentivou os funcionários no aspecto financeiro, ao invés de levá-los para outras empresas.
A gestão do capital humano passa pelo levantamento do potencial humano, pela identificação das potencialidades estratégicas a desenvolver e pela capacitação necessária.

3.2 - Capital estrutural

Duffy (2000) diz que este capital é o valor que é deixado na empresa, quando os funcionários – capital humano – vão para casa. Exemplos: bases de dados, listas de clientes, manuais, marca e estruturas organizacionais.
Compreende os ativos intangíveis relacionados com a estrutura e os processos de funcionamento interno e externo da organização que apóiam o capital humano, ou tudo o que permanece na empresa quando os empregados vão para casa. Baum & Gonçalves (2001) dizem que no capital estrutural se destacam dois aspectos, o tecnológico e a infra-estrutura.
√ O capital tecnológico é formado pelas patentes, marcas registradas, banco de dados, softwares, copyrights, franquias, tecnologias de processos e de produtos.
√ O capital relativo à infra-estrutura da empresa é representado pela estrutura de comando, a filosofia e cultura da organização, processos de gestão e sistemas de informação.
Edvinsson (1997) propõe a seguinte divisão para o capital estrutural:
√ Capital organizacional: abrange o investimento da empresa em sistemas, instrumentos e filosofia operacional que agilizam o fluxo de conhecimento pela organização, bem como em direção às áreas externas, como aquelas voltadas para os canais de suprimento e distribuição.
√ Capital de inovação: refere-se à capacidade de renovação e aos resultados da inovação sob a forma de direitos comerciais amparados por lei, propriedade intelectual e outros ativos e talentos intangíveis utilizados para criar e colocar rapidamente no mercado de novos produtos e serviços.
√ Capital de processos: é constituído por aqueles processos, técnicas (como o ISO 9000) e programas direcionados aos empregados, que aumentam a ampliam a eficiência da produção ou a prestação de serviços. É o tipo de conhecimento prático empregado na criação contínua de valor.
Stewart (1998) diz que o capital estrutural é o que transforma um monge capaz de gerar uma caligrafia elegante no sorridente astro de um comercial de televisão da Xerox, capaz de fazer muitas cópias de um documento. Funcionando como uma espécie de amplificador, ele embala o capital humano e permite seu uso repetido para a criação de valor, da mesma forma como uma matriz pode estampar peça após peça.

3.3 – Capital do cliente

O capital do cliente é gerado quando o capital intelectual se transforma em dinheiro. É definido como o valor de sua franquia, seus relacionamentos contínuos com pessoas e organizações para as quais vende.
É de vital importância para as empresas a gerência do capital do cliente. Os investimentos no capital do cliente devem ser realizados em conjunto com os clientes, buscando o benefício mútuo no que diz respeito às informações e aos conhecimentos gerados.
Oliveira (2002) relaciona algumas maneiras de investir no capital do cliente:
√ Inove com os clientes: independente de quem seja o seu comprador, ele deseja obter o máximo do cliente dele. Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento podem ser muito mais produtivos, caso já se tenha um cliente capaz de se beneficiar pelo fato de ser o primeiro a experimentar a inovação.
√ Invista em seus clientes de empowerment: oferecer aos clientes a oportunidade de acompanhar eletronicamente, passo a passo, a fabricação de um produto, pode ter desvantagens com relação ao poder de barganha. Entretanto, apresenta uma infinidade de vantagens, destacando-se a possibilidade de se obter feedback do cliente, antes mesmo de se cometer erros.
√ Concentre-se nos clientes como indivíduos: o empowerment, como benefício, aumenta a capacidade da empresa em adquirir informações sobre os seus clientes. Entretanto, transformar essas informações em capital do cliente, um ativo duradouro, requer a capacidade de atender com flexibilidade às necessidades dos clientes individuais. Isso torna necessário que as informações a serem utilizadas possam ser extraídas de bases de dados organizadas por clientes, onde constem cadastros individualizados.
√ Divida os ganhos com seus clientes: o conceito de capital do cliente só faz sentido quando o produtor e o cliente não lutam pelo excedente que criaram juntos, mas concordam abertamente em possuí-los juntos. Quanto mais estreitos os laços entre produtor e consumidor, maior é a capacidade de se gerar excedente em forma de capital do cliente.
√ Aprenda o negócio do seu cliente e lhe ensine o seu: afinal, quanto melhor informado estiver sobre o negócio de um cliente, melhor poderá servi-lo. Isso se dará através da identificação das necessidades não-expressas do cliente, o que permitirá o desenvolvimento de produtos que os atendam.
√ Torne-se indispensável: as informações sobre o cliente podem e devem ser utilizadas para que se busque ofertar um serviço vital para o cliente, de difícil substituição por outro fornecedor. Por meio de informações, é possível conhecer as características e especificidades de determinado produto que o tornam especialmente atraente aos olhos do comprador.

3.4 – Gestão do capital intelectual

Segundo estudo do Financial and Management Acconting Committee (Técnica Contable) apud Baum & Gonçalves (2001), os conceitos básicos relativos à medida e gestão do capital intelectual estão relacionados a três aspectos:
√ Contexto econômico – o crescimento é maior nas indústrias e nações voltadas à criação, transformação e capitalização dos conhecimentos do que naquelas ligadas à exploração e utilização dos recursos naturais em seus processos. O conhecimento é um diferencial de competitividade.
√ Contexto Contábil – a Contabilidade tradicional não está habilitada a medir aspectos da empresa quanto à capacidade de dirigentes e pessoal, o valor das informações, da capacidade tecnológica, potencial de mercado e investimentos em pesquisa e desenvolvimento.
√ Contexto Empresarial - a visão na gestão da empresa, a partir da atual era do conhecimento em relação à era industrial, passa a ter o seguinte enfoque, conforme o quadro 1.
Quadro 1 - visão na gestão da empresa a partir da atual era do conhecimento em relação à era industrial
Aspectos Visão da era industrial Visão na era do conhecimento
Percepção do pessoal Fator de produção e custos Conhecimento como geração de riquezas
Fluxo de produção Baseado sobre processos Baseado sobre idéias
Benefícios s/ inversões Tendência de baixa Tendência de alta pela criatividade
Base de poder Posição hierárquica Nível de conhecimento
Fluxo de informações Hierárquica Redes funcionais e operacionais
Baum & Gonçalves (2001)

Para Stewart (1998), os ativos intelectuais de uma corporação são geralmente três ou quatro vezes mais valiosos que os tangíveis que constam nos livros. Ele diz que os passos para administrá-lo são:
√ definir a importância do investimento intelectual para o desenvolvimento de novos produtos;
√ avaliar a estratégia dos componentes e o ativo do conhecimento;
√ classificar o seu portfolio: o que você tem, o que você usa, onde eles estão alocados;
√ analisar e avaliar o valor do portfolio: quanto eles custam, o que pode ser feito para maximizar o valor deles, se deve mantê-los, vendê-los ou abandoná-los;
√ investir, baseado no que se apreendeu nos passos anteriores, identificar espaços que devem ser preenchidos para explorar conhecimento, defender-se da concorrência, direcionar a ação da empresa ou avançar na tecnologia; e
√ reunir o seu novo portfolio de conhecimento e repetir a operação ad infinitum.
O capital intelectual assume várias formas e por este motivo é difícil de gerenciá-lo. A informatização crescente das empresas, a utilização de sistema de informações em redes, a flexibilidade dos horários (trabalhos feitos em casa), a terceirização dos serviços farão com que o ativo tangível represente uma parcela decrescente em relação ao valor total do patrimônio, acarretando uma diminuição do patrimônio físico tradicional.
Encontram-se em desvantagem, em relação às demais, as empresas que ainda não se deram conta do seu capital intelectual, pois não encontraram a importância do capital intelectual dentro do seu patrimônio. O primeiro passo para o gerenciamento deste capital é identificá-lo, para depois mensurá-lo.
Percebe-se, então, que o gerenciamento do capital intelectual é mais do que apenas o gerenciamento de conhecimentos. Para Edvinsson (1997), é a alavancagem do capital humano e do capital estrutural em conjunto. Trata-se de um efeito multiplicador entre capital humano e capital estrutural. Isso posto, capital intelectual é uma função de gênero e de metas.
O desafio, para o mesmo autor, é a transformação desde a geração de valores para a colheita, captação e rápido compartilhamento de conhecimentos até a alavancagem e capitalização. O objetivo de gerenciamento, via conhecimentos, pode ser definido como a melhora da capacidade de geração de valores da organização via abordagem de conhecimentos. A meta do capital intelectual é a de melhoria da capacidade de gerar valores da empresa, mediante identificação, captação, alavancagem e reciclagem do capital intelectual.
Desta forma, segundo Tinoco (1996), o valor gerado em decorrência do trabalho humano se constitui em um ativo que precisa ser devidamente contabilizado, mensurado, analisado e divulgado.
3.5 – Mensuração do capital intelectual

O maior desafio da Ciência Contábil é saber como avaliar e mensurar o capital intelectual de uma entidade, pois, de acordo com Paulo (2000), o ativo intangível tem relevância sobre o valor da empresa e influencia o poder de geração de benefícios futuros do ativo tangível.
Entre os diversos instrumentos que buscam medir o capital intelectual da empresa, destacam-se:
√ diferença entre o valor de mercado e o valor contábil;
√ razão entre o valor de mercado e o valor contábil;
√ “Q” de Tobim;
√ Modelo de Stewart;
√ valor intangível calculado;
√ Modelo de Edvinsson & Malone;
√ Modelo de Sveiby;
√ Modelo Heurístico.

3.5.1 – Diferença entre o valor de mercado e o valor contábil – (CI=VM-VC)

É determinado pela diferença entre o valor contábil e o valor de mercado de uma empresa. Assim tem-se:


Valor de Mercado = preço por ação x nº total de ações
Capital Intelectual= Valor de Mercado (-) Valor Contábil (PL)
Capital Intelectual = Valor de Mercado (-) Valor Contábil

Se o valor de mercado de uma empresa é maior do que o seu valor contábil, faz sentido atribuir a diferença ao capital intelectual. Paiva (1999) diz que essa equação apresenta alguns problemas, devido às variáveis exógenas que interferem no mercado, como por exemplo: se as taxas de juros e as ações da Microsolf caem x%, isso significa que o valor do seu capital intelectual também caiu? Se uma empresa é negociada abaixo do seu valor contábil, isso significa que não tem mais ativo intelectual?
Outro ponto desfavorável é que tanto o valor contábil quanto o de mercado podem estar subestimados, o que, em ambos os casos, interfere no resultado.

3.5.2 – Razão entre o valor de mercado e o valor contábil (CI=VM/VC)

Este indicador elimina em boa parte os fatores exógenos que afetam todas as empresas de um setor de forma mais ou menos semelhante. Segundo Paiva (1999), os boatos – que influenciam o valor de mercado – são filtrados pelo próprio mercado e por isso este indicador é adequado como base de comparação e evolução ao longo de um determinado período ou mesmo como base comparativa com os concorrentes.
Em ambos os modelos (CI=VM-VC e CI=VM/VC), existe uma simplificação, em virtude de que a maioria dos ativos físicos ou financeiros está representada no Balanço Patrimonial pelos seus custos históricos e não pelos custos de reposição.


3.5.3 – “Q” de Tobim – (Q=VM/CR)

Desenvolvido pelo economista James Tobim, este método é a comparação entre o valor de mercado e o seu custo de reposição dos ativos. Este método prevê decisões de investimentos independentemente de influências macroeconômicas. Mesmo não sendo uma medida desenvolvida para medir especificamente o capital intelectual, é um bom referencial, ao comparar o valor de mercado da empresa e o custo de reposição de seus ativos.
Stewart (1998) diz que: se o “Q” for menor que 1 – ou seja, se um ativo vale menos que seu custo de reposição –, é improvável que uma empresa compre novos ativos do mesmo tipo; por outro lado, se o “Q” for maior que 1 – ou seja, um ativo vale mais do que seu custo de reposição –, as empresas tendem a investir mais naquele tipo de ativo.
É possível calcular o “Q” de Tobim para ativos específicos, como veículos, máquinas, edificações, ou para empresa como um todo. Nas indústrias de software, onde o capital intelectual é abundante, o “Q” de Tobim tende para um número igual ou superior a 7 (sete) ou mais e nas companhias de capital físico, este indicador tende para valores aproximados de 1 (um).

3.5.4 – Modelo de Stewart - Navegador do capital intelectual

Stewart (1998) entende que o capital intelectual deve analisar o desempenho da empresa sob várias perspectivas. Para tanto, sugere um gráfico circular, cortado por várias linhas, em forma de uma tela de radar. Este gráfico tem a vantagem de poder agrupar várias medidas diferentes (por exemplo: razão, %, valores absolutos, etc) num mesmo quadro. O autor utiliza uma medida geral (razão valor de mercado/valor contábil) e indicadores para cada um dos elementos que compõem o capital intelectual: humano, estrutural e cliente.
Exemplificando o Navegador do capital intelectual, tem-se a figura 1, onde a área do interior do polígono representa a situação atual, enquanto a área externa indica a situação desejada. Em outras palavras, alcançar a extremidade do círculo seria o ideal.

Figura 1 – Navegador do capital intelectual

Fonte: Stewart (1998)

Com base na figura acima, pode-se concluir que a empresa, em termos de "satisfação de clientes", está quase atingindo as metas pretendidas. Entretanto, o índice de "participação de novos produtos na receita total" está longe do objetivado pela empresa. Pode-se concluir, neste exemplo, que a empresa tem um desempenho satisfatório em medidas de capital do cliente, entretanto um péssimo desempenho nos índices de medidas de capital estrutural.
O Navegador do capital intelectual tem a vantagem da fácil visualização e do acompanhamento da evolução do desempenho da empresa. Deve-se ter cuidado especial na escolha dos índices de desempenho para que sejam adequados à estratégia da empresa.

3.5.5. – Valor Intangível Calculado (VIC)

Stewart (1998) informa que a NCI Research em Evanston, nos EUA, afiliada à Kellogg School of Business, na Northwestern University, montou um grupo de projeto para encontrar uma maneira de medir intangíveis. O valor dos ativos intangíveis foi definido como a capacidade da empresa de superar o desempenho de um competidor semelhante. Então, calcula-se primeiro o retorno sobre os ativos para uma empresa, no decorrer de três anos, e apura-se a média para o setor. Baseado nos ativos da empresa, o excesso (déficit) de ganhos é calculado e comparado com o que seria produzido por uma empresa média. O imposto é deduzido e o resultado é o prêmio de ganhos atribuíveis aos ativos intangíveis da empresa. Tal prêmio é convertido em seu valor presente líquido para chegar a um valor de capital.

3.5.6 – Grupo Skandia – Modelo de Edvinsson & Malone

O grupo Skandia identificou certos valores de sucesso que deveriam ser maximizados e incorporados à estratégia organizacional. Estes fatores foram agrupados em cinco áreas distintas que, de acordo com Edvinson & Malone (1998), são: financeiro, cliente, processo, humano, renovação e desenvolvimento, para avaliar o capital intelectual da seguradora e emitir relatório. No quadro 2 são transcritos estes indicadores.
Quadro 2 – Indicadores para avaliar o capital intelectual
FOCO FINANCEIRO FOCO NO CLIENTE
Ativo total/empregado ($) Participação de mercado (%)
Lucro/empregado ($) Número de clientes
Receitas de novos clientes/receitas totais (%) Vendas anuais/cliente ($)
Valor agregado/empregado ($) Número de clientes perdidos
Investimento em Tecnologia da Informação (TI) ($) Índices de satisfação do cliente (%)
Receitas resultantes de novos negócios ($) Despesas de suporte/cliente ($)
Lucros resultantes de novos negócios ($) Contatos de vendas/vendas fechadas (%)
Valor de mercado ($) Número de visitas dos clientes à empresa

FOCO NO PROCESSO FOCO DE RENOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO FOCO HUMANO
Custo dos erros administrativos/receitas gerenciais (%) Índice de satisfação dos empregados Índice de liderança (%)
Capacidade da rede/empregado Horas de treinamento (%) Índice de motivação (%)
PCs e laptops/empregado Investimentos em relacionamento/cliente ($) Número de empregados
Despesas administrativas/empregado ($) Despesas de treinamento/empregado ($) Rotatividade dos empregados (%)
Despesas com TI/despesas administrativas (%) Investimentos no desenvolvimento de novos mercados ($) Tempo médio de casa
Equipamentos de informática adquiridos ($) Investimento de P&D em pesquisa básica (%) Idade média dos empregados
Desempenho corporativo/meta de qualidade (%) Patentes em fase de registro Conhecimento de TI dos empregados
Tempo de processamento dos pagamentos a terceiros Oportunidade de negócios (%) Tempo de treinamento (dias/ano)
Fonte: Edvinson & Malone (1998)

Os mesmos autores estabeleceram passos, a fim de criar uma equação que traduzisse em um número o valor do capital intelectual da Skandia:
- Identificar um conjunto básico de índices que possa ser aplicado a toda a sociedade com mínimas adaptações.
- Reconhecer que cada organização possa ter um capital intelectual adicional que necessite ser avaliado por outros índices.
- Estabelecer uma variável que capte a não tão-perfeita previsibilidade do futuro, bem como a dos equipamentos, das organizações e das pessoas que nela trabalham.
Neste sentido, chegou-se à seguinte fórmula:
Capital Intelectual Organizacional = iC,
Onde: C = Valor monetário do Capital Intelectual
i = Coeficiente de Eficiência

De acordo com Antunes & Martins (2002), o valor monetário de “C” é obtido com base numa relação que contém os indicadores mais representativos de cada área de foco, avaliados monetariamente, excluídos os que pertencem mais propriamente ao Balanço Social. Esses indicadores se referem ao exercício social:
√ Receitas resultantes da atuação em novos negócios.
√ Investimento no desenvolvimento de novos mercados.
√ Investimento no desenvolvimento do setor industrial.
√ Investimento no desenvolvimento de novos canais.
√ Investimento em Tecnologia da Informação (TI) aplicada a vendas, serviço e suporte.
√ Investimento em TI aplicada à administração.
√ Novos equipamentos de TI.
√ Investimento no suporte aos clientes.
√ Investimento no serviço aos clientes.
√ Investimento no treinamento de clientes.
√ Despesas com clientes não-relacionados ao produto.
√ Investimento no desenvolvimento da competência dos empregados.
√ Investimento em suporte e treinamento relativo a novos produtos para os empregados.
√ Treinamento especialmente direcionado aos empregados que não trabalham nas instalações da empresa.
√ Investimento em treinamento, comunicação e suporte direcionado aos empregados permanentes em período integral.
√ Programas de treinamento e suporte especialmente direcionados aos empregados temporários de período integral.
√ Programas de treinamento e suporte especialmente direcionados aos empregados temporários de tempo parcial.
√ Investimento no desenvolvimento de parcerias/joint-venture.
√ Upgrades no sistema.
√ Investimentos na identificação da marca (logotipo/nome).
√ Investimento em novas patentes e direitos autorais.
Quanto ao índice de coeficiência “i” do capital intelectual, este é obtido, de acordo com Antunes & Martins (2002), por meio de indicadores mais representativos de cada área de foco expressos em porcentagens, quocientes e índices, cuja média aritmética dos índices permite colocá-los em uma porcentagem única. Esses parâmetros,de acordo com os autores, referem-se a:
√ Participação de mercado (%).
√ Índice de satisfação dos clientes (%).
√ Índice de liderança (%).
√ Índice de motivação (%).
√ Índice de investimento em Pesquisa & Desenvolvimento/investimento total (%).
√ Índice de horas de treinamento (%).
√ Desempenho/meta de qualidade (%).
√ Retenção dos empregados (%).
√ Eficiência administrativa/receitas (%).
Portanto, a fórmula apresentada por Edvinson & Malone (1998) – Skandia mede o capital intelectual em função da quantidade de investimentos, medidos em termos monetários, realizados nos elementos que podem ser mensurados objetivamente. De acordo com Antunes & Martins (2002), este método não considera como capital intelectual o valor total do investimento (valor de custo) realizado, mas apenas a proporção que reverterá para a empresa, a médios ou longos prazos, medida em função do índice percentual da satisfação dos clientes (indicador não-financeiro).

3.5.7 –Modelo de Sveiby

Este modelo foi desenvolvido por Sveiby, na Swedish Comunity of Practice, que através de relatório anual apresentou a evolução dos itens do capital intelectual.
Sveiby (1998) dividiu os ativos em tangíveis e intangíveis, classificando-os em três grupos: competências das pessoas; estrutura interna e estrutura externa. Para avaliação, ele utiliza o Monitor de Ativos Intangíveis, que é um formato de apresentação que exibe de forma simples uma série de indicadores relevantes e, dependendo da estratégia da empresa, estes são escolhidos. Este monitor (quadro 3) pode ser integrado ao sistema de gerenciamento de informações, não devendo ultrapassar uma página, mas ser acompanhado por diversos comentários.
Quadro 3 - Monitor de Ativos Intangíveis
Estrutura externa Estrutura interna Competência das pessoas
Crescimento/Renovação Crescimento/Renovação Crescimento/Renovação
Crescimento orgânico do volume de vendas.Aumento da participação de mercado.Índice de clientes satisfeitos ou índice da qualidade Investimentos em Tecnologia da Informação. Parcela de tempo dedicado às atividades internas de P&D. Índice da atitude do pessoal em relação aos gerentes, à cultura e aos clientes. Parcela de vendas geradas por clientes que aumentam a competência.Aumento de experiência média profissional (número de anos). Rotatividade de competência.
Eficiência Eficiência Eficiência
Lucro por cliente. Vendas por profissional Proporção de pessoal de suporte. Vendas por funcionários de suporte. Mudança no valor agregado por profissional. Mudança na proporção de profissionais
Estabilidade Estabilidade Estabilidade
Freqüência de repetição por pedidos. Estrutura etária. Idade da organização.Taxa de novatos. Taxa de rotatividade dos profissionais
Fonte: Sveiby (1998, p. 238).

Este monitor foi desenvolvido com base na análise do capital intelectual de Sveiby e esta forma de mensuração visa avaliar o crescimento do capital intelectual sem efetuar uma avaliação de cunho financeiro do conhecimento.
3.5.8 – Modelo Heurístico

Este modelo foi desenvolvido por Jóia (2001) e considera o vínculo entre o capital intelectual e a estratégia empresarial, de modo que se avaliem os ativos intangíveis da empresa ao longo do tempo, segundo a estratégia de negócios implantada.
Jóia (2001) centra o modelo em dois pontos principais:
√ Considera possível inferir que a atribuição de valores ao capital intelectual corporativo e seus componentes só vale a pena se houver uma ligação com a estratégia empresarial da empresa. Para calcular a intangibilidade, deve-se definir e classificar alguns indicadores de acordo com os componentes do capital intelectual (capital humano e capital estrutural) e também escolher os pesos associados a cada um desses indicadores. Então, todo capital intangível pode ser calculado pela combinação dos dados disponíveis para os indicadores e seus pesos.
√ Deve-se aplicar algum peso derivado da estratégia empresarial para definir o capital intelectual em seu todo, esperando encontrar uma grande correlação estatística entre os valores de capital intelectual e de mercado, à medida que o tempo avança.

3.6 – Capital intelectual: o desafio para a Contabilidade

O capital intelectual proporciona uma vantagem competitiva, porque é a soma do conhecimento de todos em uma empresa. Porter (1993) ressalta que essa vantagem é superior, pois depende de investimentos constantes e cumulativos, que criam bens concretos e abstratos, na forma de reputação, relações com os clientes e conjunto de conhecimentos especializados. As vantagens competitivas de ordem superior não só são mais sustentáveis como também estão associadas a níveis superiores de produtividade.
Donkin apud Antunes & Martins (2002) afirma que as empresas vêm percebendo que o valor contábil de seus ativos fixos está, em muitos casos, diminuindo em relação ao seu valor de mercado, já que este valor está sendo medido em termos de capacidade que possuem de exploração de seu conhecimento.
A predominância da informação na cadeira de valor, o investimento em equipamento capital da Sociedade do Conhecimento, a substituição de materiais e ativos físicos pelo conhecimento, a iniciativa dos mercados de trabalho em recompensar o trabalho baseado no conhecimento demonstram claramente que, atualmente, quando alguém investe em uma empresa, este suposto investidor está comprando um conjunto de talentos, capacidade, habilidade e idéias.
Sendo a Contabilidade uma ciência social teria, forçosamente, de acordo com Sá (2002), que acompanhar as transformações ambientais no que se caracterizam como causas agentes no patrimônio celular. Diz ainda que o estudo do “imaterial” agregado à riqueza já era feito há quase um século, com grande seriedade, pelas correntes doutrinárias italianas e Fábio Besta, em sua obra, do início do século XX, já as definia como sendo: “o valor que a empresa próspera tem por si mesma independentemente dos seus bens, ou seja, um maior valor que ela adquire [...]”
Sá (2002) continua, dizendo que a matéria não é nova, mas a séria transformação econômica e social dos últimos vinte anos exigiu recente postura na observação dos intangíveis agregados como capital, sugerindo, inclusive, uma especialidade contábil para o estudo da questão.
Como a Contabilidade transforma os dados em informações úteis para a tomada de decisão, faz-se necessário fornecer informações precisas em tempo correto.
Na Contabilidade tradicional, o capital intelectual não se enquadra, devido a variáveis que não repercutem no resultado de imediato da empresa, como, por exemplo, citado por Paiva (1999), a lealdade da clientela, desenvolvimento da competência dos empregados e satisfação dos empregados. Correspondem a ativos de natureza intangível, que são a categoria de ativos de mais difícil avaliação, por não possuírem existência física, apesar de representarem valor patrimonial para a empresa.
Não é novidade nenhuma para os contabilistas lidar com ativo intangível, como, por exemplo, a contabilização de direitos autorais, marcas, patentes, portanto, esses representam apenas parte do capital intelectual.
Uma das grandes dificuldades encontradas pelos contabilistas é a cumplicidade que se estabelece entre a empresa e o empregado. Sabe-se que o capital intelectual é volátil, pois as empresas não podem contar sempre com ele. As pessoas que detém o conhecimento podem amanhã ou depois estar trabalhando para um concorrente da empresa, pois não são propriedade da companhia, mas considerados ativos.
É interessante a colocação de Stewart (1998), ao dizer que é característico das empresas do conhecimento eliminar de seus balanços os ativos fixos. Quanto menos ativos, melhor; desde que tenha capital intelectual, a empresa pode conseguir receitas, sem a carga e as despesas de gerenciar os ativos e pagar por eles.
O estudo do capital intelectual é uma maneira de se tentar esclarecer, conforme declaram Edvinsson & Malone (1998), as informações subjetivas, semi-ocultas, sobre uma empresa, que se encontram escondidas nas notas explicativas do Balanço Patrimonial.
Alguns princípios, normas e conceitos não são aplicáveis na Sociedade do Conhecimento, pois precisam ser reavaliados, como, por exemplo citado por Paiva (1999), o Princípio do Registro pelo Valor Original – custo de aquisição de devidos ajustes: depreciação – pacificamente aceito para avaliar os ativos da empresa, não se aplica aos ativos intelectuais. Um sistema de custos contábeis, que considere apenas o custo do material e da mão-de-obra, não mais responde adequadamente a essa nova realidade, pois muitos dos componentes do custo de um produto se referem aos ativos intelectuais.
Os relatórios financeiros não indicam o valor de quaisquer ativos de uma organização. Como diz Flamholtz apud Pacheco (1996), eles reportam o custo depreciado dos ativos como um substituto para valor. Adicionalmente, relatórios financeiros não informam aos investidores os investimentos feitos em ativos humanos por uma organização. A Contabilidade convencional trata os investimentos em recursos humanos como despesas em vez de tratá-los como ativos.
Então, isto significa uma distorção, porque empresa nenhuma investiria em capital humano, um ativo com benefícios futuros esperados, que agrega valor em seu produto e/ou serviço, gerador de Capital Intelectual. Valor agregado para Maital (1996) é o valor, por exemplo, que um carpinteiro agrega à madeira que comprou, depois que esta é transformada em uma mesa. É a diferença entre o custo da madeira para o carpinteiro e o valor da mesa quando ele a vende. O autor acrescenta que, no caso de produtos baseados em conhecimento, por exemplo, o custo do silício e das substâncias utilizadas na fabricação dos microprocessadores em relação ao valor que possuem, assim como o custo dos disquetes em que um software, é gravado em relação ao preço e ao valor desses softwares.
Neste contexto, verifica-se que valor agregado fornece informações vitais sobre remuneração de empregados, que podem ser utilizadas por eles mesmos e por outros usuários interessados na relação entre atividades de recursos humanos versus desempenho e valor da empresa.
Portanto, a Contabilidade não tem levado em consideração, apesar da grande repercussão patrimonial, esses ativos, como o faz com os demais ativos, na avaliação patrimonial e divulgação de suas informações. Porém, vários estudos estão sendo feitos, em busca de uma metodologia adequada para mensurar este tipo de capital.
Paiva (1999) faz os seguintes questionamentos:
√ Será que o Capital Intelectual é totalmente quantificado?
√ Como avaliar e contabilizar adequadamente os ativos intelectuais – o conhecimento em si -, considerados a principal parte do Capital Intelectual?
√ Como demonstrar a valorização patrimonial que ocorre com o Capital Intelectual?
√ Qual o efeito patrimonial acarretado pela saída de um grupo de empregados envolvidos em pesquisas e desenvolvimento?
√ Como avaliar o retorno do investimento realizado no Capital Intelectual?
São questionamentos para os quais ainda não se tem as devidas respostas.
A Contabilidade, segundo Sá (2002), como ciência do patrimônio, não poderia estar alheia a todos esses câmbios de situações e esta é a razão que justifica novas teorias e maiores e melhores tecnologias de aplicação nas áreas dos elementos imateriais no capital.
Se a nova realidade demonstra que esses elementos agregam valor às empresas, Antunes & Martins (2002) dizem que a Contabilidade deve considerar tais ativos intangíveis e desenvolver uma forma de evidenciá-los, se for esse o caso, mas não se pode esquecer que evidenciar o valor da empresa não é objetivo do Balanço Patrimonial, pelo menos até o momento. Portanto, fica claro que a mensuração das transações envolvendo o patrimônio de uma entidade, cuja função pertence à Contabilidade, é demasiadamente complexa e que as críticas ao Balanço Patrimonial não procedem por inteiro.
Mas eis o grande desafio para a Contabilidade atualmente, ressalta Straioto (2000): demonstrar a natureza dinâmica e intangível da criação de valor da empresa moderna. Os profissionais da área contábil, conscientes quanto a estas limitações, têm recebido influências de novos conceitos, metodologias e modelos que visam acrescentar ao papel informativo da Contabilidade, adequando-a às necessidades informativas de usuários cada vez mais exigentes.

3.7 – Sugestão do Capital Intelectual No Balanço Patrimonial

O capital intelectual é definido por Stewart apud Padoveze (2000) como sendo o domínio de conhecimentos, experiência acumulada, tecnologia da organização, relacionamentos com clientes e habilidades profissionais, de modo a dar vantagem competitiva para a empresa que detém um capital intelectual diferenciado. Na realidade é um conjunto de talentos, capacidades, habilidades e idéias.
Partindo da premissa que essa nomenclatura de capital intelectual é para diferenciar esse ativo intangível dos demais ativos físicos da empresa, o valor da empresa, então, é o somatório do capital intelectual mais o capital físico, representado pelos ativos tradicionais.
Posto isto, como diz Padoveze (2000), a Contabilidade tradicional está enfrentando um grande desafio, tendo em vista que seus proponentes entendem que o capital intelectual é passível de mensuração econômica, e, portanto, deve figurar no ativo da empresa, juntamente com os demais ativos tradicionais.
A seguir, sugere-se como deve aparecer o capital intelectual no balanço patrimonial.

CAPITAL INTELECTUAL NO BALANÇO PATRIMONIAL

Ativo Passivo

Balanço tradicional
Investimentos tangíveis Capital financeiro
Bens e direitos

Balanço intelectual
Propriedade intelectual
Goodwill
Tecnologia Capital intelectual
Competência
Outros
Total do ativo Total do passivo
Balanço total
Valor da empresa

Fonte:Padoveze (2000; p. 8)

Sendo o capital humano um componente do capital intelectual, Leone apud Straioto (2000) propõe a inclusão dos recursos humanos e seus desdobramentos no ativo, bem como os gastos de investimentos em ativos humanos e sua amortização no Balanço Patrimonial de uma organização, como é demonstrado a seguir:

BALANÇO PATRIMONIAL – EMPRESA “X”
Incluindo os itens relacionados à Contabilização dos Recursos Humanos

1 - ATIVO
. Ativo Circulante
. Ativo Realizável a Longo Prazo
Ativo Permanente
. Ativo Imobilizado
Estrutura de apoio aos RHs.
Depreciação Acumulada
. Ativo de Investimento
Investimentos em RHs.
Avaliação
Reavaliação
Desvalorização
. Ativo Diferido
Gastos de Investimentos em RHs.
Amortizacão de gastos em RHs.

Fonte: Grupo de ativo - Leone, apud Straioto (2000)

Diz a autora que este modelo de Balanço de Recursos Humanos poderá ser elaborado pela Contabilidade em conjunto com o departamento responsável pela administração dos recursos humanos da empresa.
Outro modelo proposta por Straioto (2000) é a criação da fórmula para mensurar o valor agregado ao valor da empresa em todos os seus níveis (do chão de fábrica até os gerentes e ou executivos), onde cada nível demonstrará o valor agregado ao valor da empresa e ao produto, conforme o grau de escolaridade dos funcionários. Seria o capital intelectual aplicado de cada nível ao produto ou serviço nas etapas do ciclo operacional da empresa.
Para isto, seria necessário abrir a conta salários no plano de contas da Contabilidade, também em níveis, como é demonstrado a seguir:

BALANÇO PATRIMONIAL – EMPRESA “X”
Incluindo os itens relacionados à Contabilização dos Recursos Humanos

2 - PASSIVO

Passivo Circulante
. Obrigações Trabalhistas e Sociais
01 Salários e encargos sociais nível 1 – (1ª a 4ª série Ensino Fundamental)
02 Salários e encargos sociais nível 2 – (5ª a 8ª série Ensino Fundamental)
03 Salários e encargos sociais nível 3 – (Ensino Médio e/ou Curso Técnico)
04 Salários e encargos sociais nível 4 – (Graduação)
05 Salários e encargos sociais nível 5 – (Especializações em Geral)

Fonte: Grupo do passivo - Straioto (2000)

Depois, calcula-se o quanto em cada fase do processo produtivo cada nível agrega de valor à empresa, conforme é demonstrado no quadro 4.

Quadro 4 – Agregando valor a empresa
ITENS VALOR $ ANO 1% ANO 2%
VENDAS
(-) Compras de Bens/Serviços e Juros
(-) Impostos
Municipais
Estaduais
Federais
= VALOR AGREGADO DA EMPRESA
(-) Valor Agregado dos acionistas (custo de oportunidade)
(-) Custos Operacionais e Administrativos
PROCESSO PRODUTIVO Nº1/2/3/4/5/....n
Salários Nível 01
Salários Nível 02
Salários Nível 03
Salários Nível 04
Salários Nível 05
= Valor Agregado Processo Produtivo 1/2/3/4/5....n
(-) Depreciação
= VALOR AGREGADO POR NÍVEL DE ESCOLARIDADE A CADA FASE DO PROCESSO PRODUTIVO.
Fonte: Straioto (2000)

Assim, calcula-se o valor agregado por nível de escolaridade, cada fase do processo produtivo, da seguinte forma, conforme Straioto (2000): primeiramente deve-se computar o valor total do valor agregado da empresa. Isso corresponde à receita total da empresa (o que ela fatura com a venda de produtos e/ou serviços), menos todos os impostos e despesas de compras (custo de matéria-prima e produtos acabados, peças, energia e serviços, incluindo o pagamento de juros).
Depois é preciso deduzir o valor agregado dos acionistas, que é o valor total do capital dos acionistas multiplicado pela taxa de juros referente a esse capital. Este valor agregado corresponde aos juros que os acionistas teriam direito se tivessem aplicado o dinheiro em outro investimento com a mesma taxa de risco que é o custo de oportunidade.
Outros componentes deverão ser ainda subtraídos, que são os custos operacionais e administrativos, para se obter o valor da contribuição de cada nível ao valor agregado. Esses custos abrangem a folha de pagamento (incluindo pagamento aos administradores, gratificações, salários indiretos, planos de saúde e aposentadoria) e a depreciação. O valor agregado pelos níveis de escolaridade é o resultado da dedução dos custos operacionais e administrativos.
Este modelo permite contribuir como uma ferramenta para gerenciar o capital intelectual.

4 – Conclusão

Com as mudanças econômicas, tecnológicas, políticas e sociais, houve uma profunda alteração da estrutura e dos valores da sociedade. Nessa nova era, o conhecimento passou a ter uma importância fundamental em todas as atividades econômicas, como seu principal ingrediente.
Em vista disso, é fundamental que a administração tenha alguns cuidados para que os funcionários considerados como capital intelectual do departamento não mudem para outras áreas (ou empresas) e mesmo que permaneçam, não percam a motivação para o constante aperfeiçoamento.
O problema todo consiste em mensurar esse capital intelectual. A grande questão é saber como identificar e disseminar o conhecimento gerado dentro da empresa, promovendo a transformação de material intelectual bruto gerado pelos ingredientes da organização em capital intelectual, e que garanta uma trajetória de crescimento e desenvolvimento.
Sabe-se que existe a consciência da necessidade de continuar com estudos e definições, a fim de tornar o capital intelectual uma ferramenta gerencial cada vez mais eficiente, ou mesmo uma demonstração como parte integrante das Demonstrações Contábeis, pois o modelo tradicional de Contabilidade, que descreveu com tanto brilho as operações das empresas durante meio milênio, não tem conseguido acompanhar a revolução que está ocorrendo no mundo dos negócios.
Apesar das dificuldades encontradas na busca da mensuração desse grande ativo que é o capital intelectual, a ciência contábil está procurando dar a sua contribuição em mais uma tarefa árdua de avaliação de todos os elementos que interagem sobre o patrimônio.
Todavia, não se pode deixar de reconhecer a necessidade premente de mudanças e alguns ajustes nos sistemas e práticas contábeis para que essa nova realidade seja devidamente reconhecida e refletida nos registros contábeis. Na verdade, as informações sobre o capital intelectual vêm a complementar e ampliar as informações contábeis atuais.

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>> Autor: Maria Elisabeth Pereira Kraemer (29/09/2005)
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